Síndrome de Burnout em Plantonistas Hospitalares e sua Prevenção

Por: Laura Corrêa Lanz

A discussão sobre saúde mental vem crescendo nos últimos anos, principalmente após a pandemia do coronavírus, em consequência das dores psicológicas geradas por um momento tão turbulento. Nesse período, pesquisadores do Brigham and Women's Hospital entrevistaram todos os membros dos hospitais e cerca de 50% relataram estar com Síndrome de Burnout (SB), sendo a maioria deles médicos e enfermeiros¹. Somado a esse dado alarmante, constatou-se que o Brasil está em segundo lugar no ranking mundial de países que mais apresentam trabalhadores com SB, segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR)². Essa doença também é chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional e afeta todo o ambiente organizacional. Sendo assim, é necessário compreender o quê ela é, seus sintomas e incidência para pôr em prática seu tratamento e prevenção.

A SB é uma resposta a um período prolongado de estresse excessivo no ambiente de trabalho, que manifesta-se por sintomas de cansaço extremo em três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e ineficácia.

A dimensão da exaustão emocional é percebida pelos sintomas de esgotamento, sejam físicos (fadiga, sono irregular, dores musculares e de cabeça) ou mentais (dificuldade de se concentrar e instabilidade emocional). Já na dimensão da despersonalização, percebe-se dificuldades de relacionamento: atitudes frias, negativas ou insensíveis acompanhadas de sentimentos de hostilidade, intolerância e apatia, havendo então distanciamento daqueles com quem se convive. Por fim, quanto à dimensão da ineficácia, é observada pela redução do sentimento de realização profissional gerado tanto pela crença de que seu propósito não está sendo atingido (o que gera baixa auto-estima) quanto pela própria queda da eficiência no trabalho³. Com tais sintomas, o profissional com Síndrome de Burnout fica incapaz de performar eficientemente e ainda afeta de forma negativa seus colegas e, portanto, seu entorno no ambiente organizacional.

Como já foi visto, a Síndrome de Burnout se dá em um contexto profissional excessivamente estressante, especialmente representado por aqueles em que os plantonistas hospitalares atuam: ritmos acelerados; rotinas extenuantes; questões éticas cotidianas difíceis; imprevisibilidade; longas cargas horárias de trabalho e o duro convívio com dor e morte demandam mais controle emocional do que em outras profissões³.

Devido a toda a pressão e exigência no trabalho, o plantonista pode acreditar que não possui condições suficientes para enfrentá-las e acabar se encontrando em Burnout - cenário reforçado na pandemia devido ao aumento repentino de pacientes sendo muitos deles de alto risco. Então, essa síndrome em ambiente hospitalar é um problema grave, pois compromete a qualidade da assistência prestada aos pacientes.

Por isso, para evitar essa situação, é essencial a atenção aos pequenos sinais da evolução da Síndrome no indivíduo desde o primeiro dos quatro estágios. No primeiro estágio, paradoxalmente, o estresse inicial é positivo e traz motivação para trabalhar mais rápido ou com maior eficiência; Já no segundo estágio, há a sensação de que não será possível realizar todas as tarefas. Posteriormente, no terceiro estágio, há a exaustão acompanhada de muitos sintomas físicos e mentais. Por fim, no quarto estágio, há a exaustão de fato e desse modo, o Burnout se concretiza². Para isso, é necessário que os gestores de hospitais se conscientizem e saibam identificar os sintomas da doença e a sua evolução nos plantonistas.

Quando se tem SB, o tratamento é feito principalmente com psicoterapia, mas também pode ser feito em conjunto de medicamentos como antidepressivos e/ou ansiolíticos e o tempo de recuperação depende de cada caso⁴. Deixar a doença chegar ao seu ápice é extremamente custoso, tanto para a organização quanto para o profissional.

Portanto, é sempre melhor investir na prevenção individual e organizacional, sendo esse o papel do gestor de pessoas nos hospitais. A intervenção direcionada ao indivíduo consiste no ensino de estratégias de adaptação perante agentes estressantes: treino de atividades comportamentais; meditação; atividade física; autocuidado; descanso suficiente; hobbies e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal; ou seja: manutenção da qualidade de vida. Já as intervenções organizacionais se baseiam na criação de um ambiente de trabalho saudável por meio da mudança das condições de trabalho e também no desenvolvimento da equipe, com treinamentos que viabilizem a otimização das tarefas (e, então, fazer melhor uso de sua energia), a flexibilidade no trabalho e a maior participação na tomada de decisão⁵. Dessa maneira, os níveis de estresse ocupacional são mitigados e a autoestima e o autocuidado incentivados, de forma a propiciar um ambiente organizacional saudável - especialmente necessário naqueles em que os profissionais detém enorme responsabilidade para com a vida do próximo.

Assim, o combate à Síndrome de Burnout nas organizações assume um papel central para o sucesso de uma operação. Para mais informações e ajuda em casos específicos entre em contato com a Liga de Gestão em Saúde!

---

Referências:

1. Doctors not the only ones feeling burned out. The Harvard Gazette. 31 mar. 2023. Disponível em: <https://news.harvard.edu/gazette/story/2023/03/covid-burnout-hitting-all-levels-of-health-care-workforce/> Acesso em: 04. nov. 2023.

2. AIDAR, Thaís. Burnout: mitos e verdades sobre a sídrome do trabalho. Terra. 25 abr. 2022. Disponível em: <https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/burnout-mitos-e-verdadessobreasindromedotrabalho,8aa281eff8ff39bfd2b8e30aae42a1caq6lzosh1.hml> Acesso em: 03 nov. 2023.

3. Médicos plantonistas de unidade de terapia intensiva: perfil sócio-demográfico, condições de trabalho e fatores associados à síndrome de burnout. ScieELO. 04 nov. 2008. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbti/a/gLBwq4nQPSRVgmCfKPy3mth/?lang=pt#:~:text=Esta%20s%C3%ADndrome%20normalmente%20acomete%20trabalhadores,risco%20ou%20de%20extrema%20responsabilidade.&text=A%20exaust%C3%A3o%20emocional%20caracteriza%2Dse,emocional%20e%20f%C3%ADsico%20no%20trabalho> Acesso em: 04 nov. 2023.

4. Síndrome de Burnout. GOV.BR. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saudedeaaz/s/sindromedeburnout#:~:text=locais%20mais%20indicados.-,Tratamento,mais%20tempo%2C%20conforme%20cada%20caso> Acesso em: 01 nov. 2023.

5. Síndrome do Burnout nos profissionais da saúde. SBPH. 07 jan. 2020. Disponível em: <https://revistasbph.emnuvens.com.br/revista/article/view/98> Acesso em: 03 nov. 2023